Vivências mostram dificuldades na vidas dos afetados
Ser pai vai além de registrar um filho. Ter um pai é bem mais que ter que um nome na certidão de nascimento. Em tempos que o papel do pai na vida dos filhos vem sendo discutido amplamente, bem como a importância da presença e do exercício do cuidar e educar de modo contínuo, o LeiaJá aproveita o Dia Nacional de Conscientização sobre a Paternidade Responsável, celebrado nesta quinta-feira (14), para debater o assunto.
A data, oficializada pela Lei 14.623/2023, foi criada para chamar atenção à problemática da ausência paterna, tema que vai muito além de questões familiares, impactando também a saúde mental e o desenvolvimento social de crianças e adolescentes.
No Brasil, segundo levantamento da Arpen-Brasil, mais de 65 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe entre janeiro e abril de 2025 — cerca de 6,3% dos nascimentos neste período. No Recife, o Censo 2022 apontou que mais de 94 mil crianças vivem apenas com a mãe, sem a presença paterna no lar.
Além disso, um panorama mais amplo mostra que entre 2019 e 2024 quase 800 mil nascimentos foram registrados somente com o nome da mãe. Na trajetória recente, a proporção cresceu de 5,28% em 2016 para 6,69% em 2025.
Este contexto reflete um mosaico que ganha corpo nas histórias de quem vive de perto essas ausências. As entrevistas exclusivas concedidas ao LeiaJá revelam nuances emocionais, sociais e estruturais que os números não alcançam.
Aos dois anos de idade, Marcus Vinicius, já vivia com o padrasto. Seu pai biológico ficou à margem da vida dele e dos irmãos:
“Graças a Deus, tivemos um avô muito presente, o apoio da mãe e, principalmente, do padrasto, que assumiu grande responsabilidade. Hoje percebemos que a ausência dele não é por falta de condições, mas de caráter, já que mora perto e mesmo assim se ausenta”, destacou.
Marcus completa que o distanciamento do pai nunca abalou sua autoestima, embora cause um incômodo, especialmente em datas marcantes.
A também entrevistada, Bianca Souza, afirma que o fato refletiu em sua vida adulta, especialmente em seus relacionamentos: ‘Sempre tive pavor e medo de homens’.
No campo da psicologia, o psicólogo Laércio Guedes ressalta o papel fundamental da figura paterna na construção da personalidade:
Ele explica que, na ausência, outras figuras como mãe, avós ou tios tendem a exercer esse papel. Os efeitos da ausência podem surgir em diferentes fases da vida — desde a infância, em que se moldam os valores, até a adolescência e vida adulta, quando decisões e comportamentos podem refletir essa lacuna emocional. Afeto não se deve implorar, especialmente quando não é voluntário:
“Afeto nunca se deve implorar, de ninguém, muito menos de uma criança, que já deveria recebê-lo naturalmente. Quando a pessoa se recusa, isso não é saudável, pois, sem desejo, motivação ou interesse em estar presente, a presença pode trazer mais malefícios do que benefícios ao indivíduo”, reforçou.
Para Guedes, o apoio de outras figuras afetivas, combinado com acompanhamento psicoterapêutico e ações de psicoeducação, pode ajudar a mitigar os efeitos dessa ausência e promover o bem-estar emocional.
Ludmila Pessoa, mãe solo, descreve a experiência como um esforço diário marcado pela sobrecarga e pela luta por dignidade:
“Como mãe solo, todas as responsabilidades são minhas. Lidar com ausências é enfrentar os efeitos da violência de gênero, que afetam minha saúde física e mental. Tenho transtorno de ansiedade generalizada e frequentemente sinto os impactos do estresse. Ainda assim, nós, mães solos, mesmo sofrendo violência psicológica ou patrimonial, não podemos deixar de cumprir a rotina da criança e atender às suas necessidades”, evidenciou.
A mulher também esclarece que jamais impulsionou o pai a manter presença afetiva. Sua cobrança se restringe ao cumprimento dos direitos do filho, amparado pela lei.
Além disso, ela percebe que a ausência paterna também impacta diretamente o filho, ‘Ele demonstra uma certa carência’, lamentou.
Ludmila completa concedendo conselhos para outras mães que passam pela mesma situação:
“Não desistam e busquem seus direitos e dos filhos. Construa uma rede de apoio real, terapia é algo que ajuda muito”.
O conjunto desses relatos e dados confirma que a ausência paterna continua sendo uma questão social urgente. Ainda que existam mecanismo legais e campanhas de conscientização em andamento, a realidade de muitas famílias segue sendo marcada pela desigualdade, pela solidão e pela estrutura afetiva fragmentada.
Alex Gomes
leiaja.com
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