Homens pagavam para disparar em crianças durante guerra na Bósnia
Ministério Público de Milão abriu uma investigação para apurar a suposta participação de italianos em uma espécie de “safári humano” que levava turistas para atirar contra civis durante o brutal cerco dos sérvio-bósnios contra Sarajevo, na atual Bósnia e Herzegovina, nos anos 1990.
O inquérito nasceu de uma denúncia apresentada pelo escritor Ezio Gavazzeni, que reuniu material sobre o caso a partir de informações passadas a ele por um ex-agente de inteligência bosníaco.
“O que eu fiquei sabendo, de uma fonte na Bósnia e Herzegovina, é que a inteligência bosníaca advertiu a sede local do Sismi [Serviço de Inteligência e Segurança Militar da Itália] sobre a presença de pelo menos cinco italianos nas colinas em torno da cidade [Sarajevo], acompanhados para disparar em civis”, diz um documento enviado por Gavazzeni ao MP de Milão em 28 de janeiro de 2025.
O escritor cita uma troca de e-mails em 2024, na qual o ex-agente secreto relatou ter ficado sabendo sobre os “safáris humanos” no fim de 1993, a partir do interrogatório de um voluntário sérvio capturado pelas forças bosníacas.
Esse prisioneiro teria testemunhado que cinco estrangeiros, incluindo pelo menos três italianos, teriam viajado com ele de Belgrado, capital da atual Sérvia, até Sarajevo, capital da atual Bósnia e Herzegovina e que, na época, era alvo de um dos cercos mais brutais da história moderna por parte das forças sérvias, que tentavam evitar o desmantelamento da antiga Iugoslávia.
O grupo de “atiradores turísticos” teria partido de Trieste, cidade italiana situada na fronteira com a Eslovênia, e incluía homens com situação financeira privilegiada, incluindo o dono de uma clínica de cirurgia plástica em Milão.
Segundo a denúncia, os “caçadores” pagavam uma taxa por cada civil que matavam: “As crianças custavam mais, depois os homens (mais ainda se estivessem fardados ou armados), as mulheres e, por fim, os idosos, que podiam ser mortos de graça”.
Gavazzeni também disse ter tido acesso a imagens confidenciais de um documentário de 2022, “Sarajevo Safari”, do cineasta Miran Zupanic, com um depoimento anônimo que fala em “americanos, canadenses, russos e também italianos dispostos a brincar de guerra”.
Os clientes, segundo o ex-agente de inteligência bosníaco ouvido pelo escritor, eram “pessoas muito ricas” que podiam se permitir “economicamente um desafio tão cheio de adrenalina”, além de ligadas a grupos de extrema direita. O ex-espião também acredita que o serviço de segurança sérvio-bósnio estivesse por trás do esquema.
Ele ainda relatou que o ex-Sismi, atual Agência de Informações e Segurança Interna da Itália (Aisi), conseguiu bloquear essas viagens após ter sido alertado. “Caro Ezio, os serviços bosníacos ficaram sabendo do ‘safári’ no fim de 1993. Informamos ao Sismi no início de 1994, e eles nos responderam em dois ou três meses: ‘Descobrimos que o safári parte de Trieste e o interrompemos. O safári não vai mais acontecer'”, afirmou o ex-agente ao escritor.
Os serviços bosníacos, no entanto, nunca descobriram detalhes sobre quem teria organizado e participado do esquema.
O MP de Milão apura a hipótese de múltiplo homicídio agravado por motivos abjetos e crueldade e pretende solicitar arquivos da Aisi sobre o caso, bem como atos do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. Ainda não há nenhum suspeito inscrito na lista de investigados.
O cerco sérvio contra Sarajevo durou quase quatro anos e deixou mais de 10 mil mortos. Atiradores de elite costumavam se esconder nas montanhas que rodeiam a cidade e disparar aleatoriamente contra pessoas nas ruas, sobretudo civis, que compõem mais de 80% das vítimas.
Ansa
leiaja.com
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