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Carteiros do Rio antigo

Carteiros do Rio antigo

Muitas das antigas profissões, tão queridas por muitos, caíram no esquecimento com o advento da internet.

Pensei no carteiro, imortalizado na canção interpretada pela paulista Isaurinha Garcia.

O carteiro era sempre esperado. Trazia as cartas ansiosamente aguardadas.

Conhecia os quatro cantos da cidade, percorrendo-os a pé, sob o sol e chuva.

Durante anos esperei com ansiedade o carteiro trazendo a carta de minha mãe, repleta de carinho e amor.

Era um alento para quem, ainda muito jovem, vivia em uma vaga de quarto de pensão no Rio de Janeiro, alimentando um sonho.

Havia deixado para trás meus pais, irmãos e amigos na minha pequena cidade.

E era o carteiro que mantinha vivos esses laços afetivos.

Não me lembro de ter recebido dele uma notícia triste.

O tempo passou. Retornei. E o carteiro, antes tão presente, vi apenas nos recantos mais distantes da cidade.

Quantos segredos esses funcionários guardaram e levaram consigo, sempre com discrição, amizade e ética.

A canção de Isaurinha Garcia reflete bem o papel desse personagem tão querido.

Ao receber uma carta, bastava olhar a postagem para saber de quem era.

Nos amores desgastados, surgia a dúvida cruel: abrir ou não abrir a carta?

Nas pensões, quando o carteiro chegava e nada trazia para quem esperava, o desespero se instalava.

Os carteiros percorriam até oito quilômetros por dia, atendendo até mesmo áreas rurais.

Às vezes o destinatário não é encontrado, e a mensagem retorna à agência.

Outras vezes, são perseguidos por cães raivosos ou ameaçados por assaltantes.

Nos dias de hoje, quando até as crianças têm celulares, as cartas e cartões se tornaram raros. Multiplicaram-se, no entanto, as encomendas.

E, ainda assim, esses verdadeiros anjos do asfalto sempre encontram seus destinatários.

Esquecidos por muitos, nessa era de escravidão digital, continuam servindo à população e sendo respeitados por aqueles que ainda os reconhecem.

Relembrar profissões tão queridas, como a das antigas parteiras, me faz um bem imenso.

É um mergulho doce nesse passado recente.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado

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