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Mãos que trabalham

Mãos que trabalham

Guardam histórias feitas de calos, cortes, unhas gastas e rugas.

A mão da mãe no preparo do almoço, a do pai firmando a enxada, as nossas próprias mãos ao longo da vida.

Todas carregam marcas silenciosas: um tributo ao trabalho e ao cuidado.

Essas mãos remontam ao Brasil rural, nos tempos da escravidão, bem antes da industrialização.

Eram mãos inteiras dedicadas ao labor, substituídas mais tarde pelas máquinas modernas.

O trabalhador do campo, antigamente era reconhecido pelo aperto de mão:  firme, áspero, marcado pelos calos e cortes, unhas gastas, pele enrugada.

Cada cicatriz um testemunho de esforço.

Hoje, o homem do campo exibe mãos lisas, afinadas pela modernização agrícola.

A enxada tornou-se apenas um símbolo do passado, uma lembrança repousada na memória.

As mães de antes tinham as mãos queimadas pelo fogão de lenha.

Quantas histórias se escondem nos calos, nas marcas, nas rugas deixadas pelo preparo dos almoços e pelo peso da enxada empunhada pelos pais!

A nova geração desconhece essas marcas históricas, frutos de um trabalho quase exclusivamente manual, tecido ao longo de toda a vida.

Aquela gente simples tinha sua própria existência, distinta da vida urbana. Eram chamados de matutos.

Possuíam sua música, sua roupa de tecido rústico, seus artistas.

Quando vinham à cidade, era a cavalo ou de carroça, trazendo a família.

Hoje, as antigas roças já não existem.

Em seu lugar, multiplicaram-se cidades modernas.

Os trabalhadores pilotam máquinas computadorizadas que, em segundos, fazem o que a enxada levava horas.

O mundo rural se transformou em outro: outras histórias, outras músicas, novos rituais festivos.

Tudo é novo, moderno, globalizado — mas as mãos de outrora permanecem na lembrança, guardiãs silenciosas de um tempo que se foi.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado

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