O tempo parece não passar quando duas pessoas compartilham o silêncio dentro de um elevador.
E, se por acaso ele parar em um dos andares, então vão à loucura.
A falta de diálogo nesses momentos é quase angustiante, tornando o elevador ainda mais lento, como se recusasse a seguir adiante.
Quando finalmente as portas se abrem, o alívio é geral, como se, de repente, o oxigênio voltasse a circular.
Ainda assim, prefiro o elevador silencioso. Subo e desço sempre longas distâncias, afinal, moro no vigésimo andar.
Minhas funcionárias, no entanto, relatam outra experiência. Para elas, o elevador de serviço carrega o peso de um preconceito velado.
Outro dia uma delas me contou que subia pelo elevador de serviço quando, de repente, uma antiga moradora do prédio quebrou o silêncio sepulcral com uma pergunta:
— Qual é o seu nome?
Ao ouvir a resposta esboçou surpresa. O nome não lhe parecia ‘adequado’ para uma funcionária doméstica.
Sem saber o que dizer, minha funcionária explicou que era uma homenagem à avó: Márcia.
E assim, em um instante, o silêncio do elevador se rompeu, escancarando o racismo, que muitos insistem em sepultar.
Na minha timidez, dentro do elevador, procuro olhar para baixo ou fixar os olhos no painel que marca os andares.
Se o companheiro de viagem for conhecido, um rápido diálogo se desenrola, sempre terminando com a promessa cordial:
— Qualquer hora passo aí para um café e colocarmos a conversa em dia.
Ele não virá nunca, e eu sei disso.
Não gosto nem de imaginar um elevador cheio, parado repentinamente entre os andares e sem energia.
O silêncio daria lugar ao desespero —todos falando ao mesmo tempo, gritando pelo zelador.
Curiosamente, um dos lugares falantes mais falantes do prédio são as escadarias, quando o elevador está em manutenção.
Os mesmos que descem e sobem calados dentro do elevador se transformam em tagarelas, como se as escadas libertassem as palavras contidas.
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT
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